Vera Pessoa

PSICÓLOGA

 

TESE DE DOUTORADO - ARTIGO
de
Waltair Martão, da Assessoria de Comunicação e Imprensa da


MÚSICA COMO INSTRUMENTO TERAPÊUTICO DA HIPERATIVIDADE
É o que constata a psicóloga da UNESP em seu trabalho de doutorado




Irrequieta, hiperativa, arteira, desatenta. Não há na face da terra educador, neuropediatra, pediatra ou psicólogo que não tenha cruzado seu caminho com o de uma criança rotulada desta forma, verdadeira "levada da breca". A desatenção e a hiperatividade, isoladas ou combinadas, são tão freqüentes e severas que esta criança acaba se distingüindo de outros meninos da mesma idade. Ela manifesta disfunções nas áreas da atividade e coordenação motora; são impulsivas; suas relações são direcionadas à dependência e independência e agem de forma inadequada nas mais diversas situações. Para os pais, que costumam passar por verdadeiros apuros por causa disso, e os profissionais que lidam com o problema há uma boa notícia. Uma pesquisa da psicóloga Vera Helena Pessôa de Souza, professora do Instituto de Artes do câmpus da São Paulo da UNESP (Universidade Estadual Paulista), concluiu que a música pode ser usada com ótimos resultados como terapia para se controlar a hiperatividade das crianças.
O trabalho de Vera Helena, na verdade sua tese de doutorado, levantou também uma série de dados sobre movimentação corporal, que permitiram a criação de um parâmetro para se avaliar o grau de hiperatividade infantil. "Um dos meus objetivos foi criar mais instrumentos para diagnosticar e tratar um hiperativo", afirma a pesquisadora. Para realizar sua pesquisa, Vera Helena estudou o efeito da música Trilogy, do roqueiro sueco Yngwie Malmsteen, sobre o movimento de olhos, braços e mãos e pernas e pés de um grupo de meninos hiperativos. A pesquisadora concluiu que o grupo apresentou uma movimentação corporal diferenciada (termo sugerido por ela para substituir a palavra "hiperatividade"), comparativamente a um grupo controle, formado por "meninos normais".

Desatenção

Durante a realização de uma tarefa não-verbal em sala de aula, onde as crianças copiavam desenhos da lousa, Vera Helena observou que os meninos hiperativos apresentavam poucos movimentos direcionados à execução da tarefa. "Os movimentos corporais deles pareciam mais uma dança", relata Vera Helena, referindo-se à beleza, à diversidade, à quantidade e ao ritmo da ação. Ao ouvir a música utilizada, os hiperativos apresentaram menos movimentação corporal, que foi mais direcionada à tarefa proposta.
Vera Helena, pioneira no estudo científico da música como instrumento terapêutico do menino hiperativo, trabalhou com crianças na faixa etária entre oito e dez anos, estudantes de estabelecimentos municipais da Capital. Trinta e quatro crianças foram indicadas por seus professores como irrequietas e 12 delas diagnosticadas como hiperativas por um neuropediatra da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Junto com outras 32 crianças, consideradas "normais" por seus professores, tiveram seus movimentos corporais registrados em vídeo durante a realização da tarefa não-verbal, que durou 30 minutos. Posteriormente, estes movimentos foram analisados, de acordo com a quantidade, alternância, ritmo e funcionalidade da tarefa, espaço ocupado e postura.
Após análise da movimentação corporal dos "normais", mensurou-se o movimento dos irrequietos. Isso deu origem ao método de mensuração, que Vera Helena chamou de Norma Carelli. O efeito da música sobre os hiperativos e os "normais" foi avaliado pelo modelo experimental antes, durante e depois da música. A professora Vera Helena afirma que a música favoreceu a diminuição da movimentação, na sala de aula, ficando o menino hiperativo mais direcionado à tarefa. "A análise funcional da movimentação corporal revelou que o hiperativo olhou o caderno e escreveu mais durante e depois da música do que antes de ouvi-la", conta a pesquisadora.