Vera Pessoa
PSICÓLOGA



TESE DE DOUTORADO
Indice



4
MATERIAL E MÉTODOS


4.1 Meninos indicados como irrequietos: percepção das professoras

4.1.1 Método de investigação utilizado

4.1.1.1 Objetivo
Este estudo teve por objetivo identificar os fatores que orientavam os comportamentos das professoras ao indicarem um menino como irrequieto.

4.1.1.2 Sujeitos

4.1.1.2.1 Caracterização por idade, sexo e escolaridade
Participaram deste estudo oito professoras da 2ª série do 1º grau, de três escolas municipais da periferia da capital de São Paulo, todas pertencentes ao Núcleo de Ação Educativa-1 (NAE-1) .
No início da coleta de dados, as professoras estavam dentro da faixa etária de 35 a 50 anos de idade. Dentre as que participaram do estudo, quatro delas eram formadas em Pedagogia, duas não tinham curso superior, uma formou-se em Letras e outra cursava o 2º ano de Pedagogia.

Tabela 1: Caracterização por idade e escolaridade:

Escola 
Nome(*) 
Idade 
Escolaridade 
Maria
Lúcia
Lurdes
Laura 
47
43
42
35 
Pedagogia
Letras
Pedagogia
Pedagogia (2º ano) 
Zuleide
Sílvia
Helena 
46
37
50 
Pedagogia
Pedagogia
Curso Normal 
Marilda 
43 
Curso Normal 

(*) Os nomes indicativos das professoras não são reais.

4.1.1.2.2 Caracterização por tempo de formação acadêmica, de magistério e de trabalho, com a 2ª série do 1º grau
Quando os dados foram coletados, as professoras tinham de 22 a 26 anos de conclusão do curso de Magistério, e de 1 a 10 anos de trabalho com a 2ª série do 1º grau, em escolas do Município de São Paulo.

Tabela 2: Caracterização por tempo de formação e de trabalho com a 2ª série do 1º grau

Escola 
Nome (*) 
Tempo de formação
(em anos) 
Tempo de magistério
(em anos) 
Tempo de trabalho
com 2ª série
(em anos) 
Maria
Lúcia
Lurdes
Laura 
26
25
24
21 
25
23
24
1
1
1
Zuleide
Sílvia
Helena 
25
20
23 
25
20
10
5
Marilda 
22 
15 

(*) Os nomes indicativos das professoras não são reais.

Quanto ao trabalho na educação, cinco das oito professoras dedicavam-se a uma única escola, enquanto as demais, a duas.

Tabela 3: Caracterização por idade, tempo de magistério e número de escolas em que as professoras lecionavam
Escola 
Nome (*) 
Idade 
Tempo de magistério
(em anos) 
Nº de escolas em que
lecionavam 
Maria
Lúcia
Lurdes
Laura 
47
43
42
35 
25
23
24
1
1
1
Zuleide
Sílvia
Helena 
46
37
50 
25
20
2
2
Marilda 
43 
15 

(*) Os nomes indicativos das professoras não são reais.

4.1.1.3 Procedimentos da coleta de dados
Para este estudo realizaram-se duas coletas de dados, dependentes entre si, distribuídas em duas fases:
Fase 1 - Entrevistas com as professoras, e
Fase 2 - Preenchimento de um questionário fornecido pelo pesquisador.

4.1.1.3.1 Fase 1 - Entrevistas com as professoras
O Local das entrevistas
As entrevistas com as professoras desenvolveram-se nas salas das professoras, nas três escolas em que as mesmas trabalhavam.

O Instrumento utilizado
Durante as entrevistas, o pesquisador usou folhas de papel sulfite e lápis para registro das respostas dadas pelas professoras; as perguntas referiam-se à (1) dinâmica funcional da classe pertencente à entrevistada e (2) à percepção da professora em relação ao comportamento dos meninos na sala de aula. Obtinha-se informações sobre: o período em que funcionava a classe da professora entrevistada (1º período ou 2º período); horário do início e término da aula; horário do recreio; número de alunos na classe (meninos e meninas), e se a professora percebia e indicava um menino como irrequieto, pertencente a sua sala de aula.

O Número de professoras entrevistadas
Em estudos anteriores, SOUZA (1985; 1988) observou que seria necessário iniciar este primeiro estudo com 16 meninos indicados como irrequietos por suas professoras, para a obtenção do número mínimo de 10 meninos que, simultaneamente, fossem indicados como irrequietos, diagnosticados como hiperativos e que estivessem acima do Q3 para o desenvolvimento do enfoque central da pesquisa sobre a "Avaliação observacional da movimentação corporal de meninos hiperativos e grupo controle, na presença e ausência de música rock, em sala de aula".
Com este critério estabelecido, foi necessário entrevistar 12 professoras de quatro escolas municipais da periferia da Capital de São Paulo, SP.

O Procedimento das entrevistas com as professoras
As entrevistas ocorreram no período de 02 de maio a 05 de junho de 1991. Cada professora se reuniu individualmente com o pesquisador e escolheu o dia e a hora da reunião.
Na ocasião, explicou-se às professoras sobre o desenvolvimento desta Tese, em Psicologia, na qual estudar-se-ia a "personalidade de alguns meninos"; esclareceu-se que os mesmos seriam encaminhados a profissionais da área de saúde, e que, posteriormente, a movimentação corporal dos meninos seria gravada em videoteipe na classe, na presença e ausência de música rock durante a aula.
Após os esclarecimentos, solicitava-se informações à professora, tais como o funcionamento da sua classe e se algum menino era percebido como irrequieto na sala de aula.
As respostas foram anotadas em papel sulfite e forneceram dados sobre a participação da professora no estudo.

4.1.1.3.2 Fase 2 - Preenchimento do questionário

O Instrumento utilizado
O questionário compunha-se de duas partes. Primeiramente, solicitou-se à professora que se identificasse (Tabelas 1, 2 e 3) e, secundariamente, que apontasse o comportamento da criança que a orientava ao indicar um menino como irrequieto (Anexo 10).
O Procedimento para preenchimento do questionário
As professoras responderam ao questionário em casa. Foi-lhes solicitado que não trocassem informações entre si e sugeriu-se que observassem, por alguns dias, os comportamentos dos meninos indicados, antes de responderem ao questionário.
O questionário fornecido às professoras inspirou-se em trabalhos de SOUZA (1988; 1989), os quais estudaram a percepção da professora relativa ao comportamento do menino irrequieto, durante a relação com o mesmo na sala de aula.

4.2 Avaliação observacional da movimentação corporal de meninos não indicados como irrequietos, para construção de um parâmetro: a norma Carelli

4.2.1 Método de investigação utilizado

4.2.1.1 Objetivo
Este estudo teve por objetivo construir um instrumento de comparação entre os movimentos corporais de meninos indicados como irrequietos, com os dos não indicados (normais).

4.2.1.2 Sujeitos

4.2.1.2.1. Caracterização por idade e escola
Participaram deste estudo 32 meninos não indicados como irrequietos (normais).
No início da coleta de dados, os meninos estavam dentro da faixa etária de 8 a 10 anos de idade e cursavam pela primeira vez a 2ª série do 1º
grau, em três escolas municipais da Capital de São Paulo, SP. Dos 32 meninos, um deles era de origem africana e outro asiática (Tabela 4).

Tabela 4: Distribuição dos meninos não indicados com relação à idade, escola e classe a que pertenciam
Nome (*) 
Número 
Idade 
Escola 
Professora (*) 
Alberto 
17 
8a 3m 
Nair 
Cláudio 
18 
9a 11m 
Laura 
Dionísio 
19 
9a 7m 
Nair 
Evaldo 
20 
8a 9m 
Lurdes 
Tadeu 
22 
8a 2m 
Maria 
Washington 
23 
9a 11m 
Noemia 
Adão 
24 
9a 11m 
Lurdes 
Alberto 
25 
9a 9m 
Maria 
António 
26 
9a 9m 
Ilda 
Alex 
27 
9a 5m 
Maria 
Irineu 
28 
9a 9m 
Márcia 
João 
29 
9a 8m 
Marilda 
João 
30 
9a 9m 
Nair 
Lauro 
31 
10a 
Laura 
Edson 
32 
8a 2m 
Márcia 
Eduardo 
33 
8a 3m 
Noemia 
Elias 
34 
9a 9m 
Márcia 
Fábio 
35 
10a 6m 
Noemia 
Luis 
36 
9a 5m 
Noemia 
Leandro 
37 
9a 7m 
Márcia 
Mario 
38 
9a 9m 
Noemia 
Mário 
39 
10a 
Helena 
Roberto 
40 
9a 7m 
Noemia 
Reinaldo 
41 
8a 2m 
Laura 
Reginaldo 
42 
9a 7m 
Zuleide 
Sandro 
43 
8a 9m 
Lúcia 
Pedro 
44 
8a 
Lúcia 
Pedro 
45 
9a 8m 
Nair 
Roberto 
46 
8a 10m 
Marilda 
Rodrigo 
47 
9a 7m 
Lurdes 
Walmir 
48 
10a 3m 
Maria 
William 
49 
8a 
Zuleide 

(*) Os nomes indicativos das crianças e professoras não são reais.

4.2.1.2.2 Caracterização das escolas e famílias dos meninos estudados
As escolas eram formadas por classes da pré-escola (Planedi), 1º grau e Suplência (de 1ª a 8ª série), com um total de 1.300 a 1.800 alunos em cada uma delas, no ano de 1991, quando iniciou-se a coleta de dados.
Cada escola funcionava em quatro períodos e tinha de quatro a seis classes de 2ª série, nos períodos em que se desenvolveu este estudo.
Foram coletados alguns dados a respeito da condição sócio-econômica da população pertencente à esta pesquisa, por meio de um questionário respondido pelos pais às professoras, nas escolas.
O questionário de ALMEIDA e WICKERNAUSER (1991) refere-se ao "Critério ABA / ABIPEME em busca de uma atualização (Anexo 11).
A análise dos dados mostrou que em 1991, das 32 famílias estudadas, 8 delas (25%) pertenciam a classe C; 14 (43,75%) estavam na classe D e 10 (31,25%) foram classificadas na classe E.

4.2.1.3 Procedimentos de coleta de dados
Foram realizadas duas coletas de dados dependentes, ou seja:
Fase 1 - Pesquisa nos livros de matrículas das escolas estudadas;
Fase 2 - Gravação em videoteipe da movimentação corporal dos meninos não indicados (normais), sendo que esta dependia da Fase 1.

4.2.1.3.1 Fase 1 - Pesquisa nos livros de matrículas das escolas estudadas
Depois da entrevista com a professora, ocorrida no primeiro estudo, "meninos indicados como irrequietos: percepção das professoras", alguns dados sobre os meninos não indicados foram retirados de livros de matrículas das três escolas, obtendo-se informações sobre o nome completo dos meninos da classe; data de nascimento; nome do pai e da mãe; endereço; informação sobre o número de vezes que o menino cursava a 2ª série do 1º grau; número de meninos e meninas matriculados na classe e a medicação tomada pelo menino.
Anotados os nomes dos meninos não indicados como irrequietos, sorteou-se um que preenchesse os critérios estabelecidos por esta Tese: que o menino estivesse dentro da faixa etária de 8 a 10 anos de idade; que freqüentasse pela primeira vez a 2º série do 1º grau; e que não tomasse medicação que interferisse no comportamento estudado. Para cada menino indicado como irrequieto, pela professora, no primeiro estudo, sorteou-se um menino não indicado (normal), da mesma sala de aula.

4.2.1.3.2 Fase 2 - Gravação em videoteipe da movimentação corporal dos meninos não indicados
As gravações em videoteipe do movimento corporal do menino não indicado foram realizadas de 26 de agosto a 05 de setembro de 1991.

4.2.1.3.2.1 Situação de gravação em videoteipe
Para este estudo as gravações foram realizadas durante as aulas, em 11 salas, de três Escolas Municipais da periferia da Capital de São Paulo, SP.
As salas mediam aproximadamente 6m x 8m e acomodavam de 27 a 37 alunos cada uma delas.
De um modo geral, em cada classe as carteiras eram dispostas em cinco fileiras, com diferentes números de carteiras em cada uma delas; as carteiras eram individuais e acompanhadas por cadeiras.

Equipamentos
Na fase da coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos.
Para a gravação em videoteipe dos comportamentos dos meninos não indicados, utilizaram-se:
- 2 filmadoras VHS, marca Sharp, modelo VL.L.1708;
- 2 tripés para filmadora, marca Fiest, modelo 095;
- 26 fitas de vídeo, marca Polaroid, VHS-T.120;
- 1 videocassete, marca Panasonic, modelo PV-1340;
- 1 videocassete, marca Panasonic, modelo G-46;
- 1 monitor de 29", marca Gradiente.

Para a reprodução e transmissão das imagens gravadas em vídeo, foram usados:
- 1 videocassete, marca Panasonic, modelo PV-1340;
- 1 TV, marca Sharp, modelo TVC-1401 A;
- protocolos de observação (Anexo 12);
- lápis, borracha e grampos.

Para a transcrição da Tarefa Não-Verbal dada às crianças, utilizou-se uma lousa pontuada, semelhante às folhas de papel sulfite usadas pelas mesmas e que media 55cm x 45cm.

Para uso das professoras durante as sessões, foram utilizados: giz branco, giz colorido e um caderno com instruções sobre o desenvolvimento da sessão, e com o desenho da Tarefa Não Verbal que seria dado às crianças (Anexo 13).
Para uso das crianças durante as sessões foram empregados: lápis de cor, lápis preto, borracha e folhas de papel sulfite pontuadas (Anexo 14).

4.2.1.3.2.2 Procedimento da gravação em videoteipe
As gravações em vídeo da movimentação corporal dos meninos foram feitas no período de 26 de agosto a 05 de setembro de 1991, num total de 24 sessões com duração de 30 minutos cada uma.
O pesquisador e os técnicos de gravação chegavam às escolas mais ou menos 30 minutos antes do início das aulas para a organização das carteiras, câmeras, aparelhos de TV e outros materiais.
Antes do início da coleta de dados, algumas medidas foram tomadas, tais como:
1. consentimento da(s) direção(ões) e professora(s) para a presença do pesquisador em sala, durante a aula. Foi-lhes explicado que se estudariam "traços da personalidade" de alguns meninos;
2. consentimento das crianças para a presença, no decorrer das aulas, do pesquisador e de um técnico de gravação. Foi-lhes dito que se faria uma "tarefa de casa", em especial, na sala que freqüentavam.
As gravações iniciavam-se depois que as crianças entravam na sala de aula, mais ou menos 10 a 15 minutos após a professora mostrar a carteira em que o menino não indicado deveria sentar-se. Posteriormente, a professora organizava a classe e colocava na lousa pontuada a Tarefa Não-Verbal. Esta foi planejada de acordo com COSTA (1984).
O menino não indicado sentava-se na primeira fila, numa carteira previamente disposta pelo pesquisador. A mesma era colocada a uma distância de dois metros da lousa.
As crianças que normalmente eram vizinhas do menino não indicado sentavam-se à sua volta.
No chão havia uma marca de giz que delimitava a distância entre a carteira ocupada pelo menino não indicado e a câmera de vídeo. Procurou-se com este procedimento manter fixa a área focalizada pela câmera. Esta foi colocada num tripé à frente do menino filmado e monitorada do lado de fora da sala de aula.
À esquerda e à frente das crianças, colocou-se sobre um tripé uma segunda câmera de vídeo, monitorada por um técnico, dentro da sala de aula. Este filmava o menino não indicado, quando ele saía do lugar, bem como a movimentação corporal da professora e da classe como um todo.
O pesquisador sentava-se à frente da classe, de frente para as crianças.
Se numa mesma sala de aula estivessem dois meninos não indicados, a classe era dividida em duas turmas. Uma turma ficava na sala com um dos meninos não indicados, enquanto que a turma seguinte e o outro menino aguardavam no pátio a vez de entrar em sala de aula. Transcorridos 30 minutos, a primeira turma saia da sala e a segunda entrava para a realização da gravação em videoteipe.
A Tarefa Não-Verbal, ou seja, de "natureza trabalho de lousa" (COSTA, 1984), foi dada a todas as crianças e durou 30 minutos. O pesquisador fornecia à professora o desenho que ela copiava na lousa pontuada, orientando as crianças na execução do mesmo.
As crianças copiavam o desenho em folhas de papel sulfite, usando o número de folhas que necessitassem. Cada criança recebia um jogo de lápis de cor com as cores: vermelho, verde e azul.
No início da Tarefa, a professora dizia às crianças qual lápis de cor deveriam usar: vermelho, por exemplo. Transcorridos 10 minutos solicitava às mesmas que continuassem o desenho com a cor verde, por exemplo; e a instrução se repetia no início dos últimos 10 minutos. As crianças usaram três cores de lápis como indicação dos seus desempenhos a cada 10 minutos. Transcorridos os 30 minutos de duração da sessão, as folhas das mesmas eram recolhidas pela professora e pelo pesquisador.

4.2.1.3.2.2.1 Sessões de gravação
Foram realizadas 24 sessões de gravações em vídeo da movimentação corporal dos meninos não indicados. No primeiro período (das 8h00 às 9h30 e das 10h00 às 10h30) e/ou no segundo período (das 11h00 às 11h30 e das 12h00 às 12h30).

4.2.1.4 Procedimento de transcrição, tabulação e análise da movimentação corporal

4.2.1.4.1 Sistemas de categorias
Para a transcrição dos comportamentos gravados e posterior tratamento dos dados, os vários aspectos do resgitro a serem analisados foram inicialmente categorizados de acordo com SOUZA (1985).
Categorias de Estado (Movimento e Repouso)
Movimento: deslocamento ou mudança de posição espacial de uma determinada parte do corpo em relação à posição / localização anterior.
Repouso: cessação do Movimento de uma parte do corpo sem que esse movimento fosse sucedido por outro imediatamente.

Categorias de Posturas
Foram registradas cinco categorias de postura: sentado, de pé, deitado (sobre a carteira), agachado e ajoelhado.

Categoria de Espaço
O local em que a criança se encontrava em cada momento do registro foi descrito como: Espaço Próprio - área ocupada pela carteira / cadeira e pertences da criança alvo; Espaço do Outro - área ocupada por outra criança; e Espaço Móvel - qualquer área da sala em que a criança alvo estivesse, excetuando-se o Espaço do Outro e o Espaço Próprio.

Categorias de Interação
As ocorrências interativas foram registradas e categorizadas de acordo com a identidade do iniciador, identidade do alvo, e resposta do alvo de interações, nos seguintes casos:
- criança observada inicia interação com outra criança;
- outra criança inicia interação (para a criança observada);
- criança observada responde;
- outra criança responde;
- criança inicia interação com a professora;
- professora inicia interação com a criança observada;
- professora interage com outra criança;
- não há interação.

Categorias relativas ao movimento corporal dos meninos
a) Partes do corpo
Para fins de registro e tabulação o corpo foi subdivido em:
- olhos;
- braços e mãos: movimento que envolvia ambas as partes;
- pernas e pés: movimento que envolvia uma ou outra das partes.
Adotou-se estas partes do corpo por terem as mesmas mostrado maior conspicuidade, em SOUZA (1985).

b) Movimentos específicos
Para fins de registro e de análise das dimensões quantitativas da movimentação corporal, utilizou-se uma categorização mais detalhada, baseada no conceito de Movimento explicitado anteriormente no item Categorias de Estado (Movimento e Repouso). Esta categorização foi sub-agrupada em itens mais gerais para a análise da Natureza do Movimento.
A lista das categorias de movimentos específicos e dos sub-agrupamentos é apresentada em anexo (Anexo 15).
Nesta Tese não serão apresentadas as categorias de Postura, Espaço e Interação, limitando-se à apresentação das Categorias de Estado (Movimento e Repouso) e as Categorias relativas ao movimento corporal, as quais deram origem aos índices estudados: Movimento, Alternância, Ritmo e Repouso.

4.2.1.4.2 Transcrição e Tabulação da movimentação corporal
Para as transcrições da movimentação corporal dos meninos utilizaram-se folhas de Protocolo e as mesmas efetuaram-se de outubro de 1991 a janeiro de 1992. Nos Protocolos reservou-se um espaço para o registro de dados referentes ao estabelecimento em que os mesmos estudavam, ao código dos meninos, ao número da fita e à localização destes na mesma, ao código da professora, à data da gravação, ao código do comportamento observado, ao número do intervalo de tempo gravado na fita e ao espaço para descrição dos comportamentos observados (Anexo 12).
Os movimentos corporais e os intervalos de tempo em segundos foram gravados, simultaneamente, nas fitas de vídeo, para uma maior precisão da análise destes movimentos em relação aos intervalos de tempo.
A cada 10 segundos o pesquisador registrou cursivamente as Categorias de Estado (Movimento e Repouso) e as de Movimentos específicos dos olhos, braços e mãos, pernas e pés; posteriormente, por meio de códigos, anotou a Postura do menino observado e da professora, Espaço ocupado por ambos e Interação entre criança-criança, criança-professora e professora-criança.
Primeiramente observava-se e transcrevia-se as Categorias de movimentos específicos e as de Estado para os olhos, seguindo-se os braços e mãos e, por último, as pernas e pés, num único intervalo de 10 segundos. Cada parte do corpo (olhos, braços e mãos, pernas e pés) foi observada no mínimo duas vezes, em cada intervalo de tempo.
Para a transcrição das fitas adotou-se os critérios:
1. o Movimento de uma parte do corpo era registrado mais de uma vez no mesmo intervalo de 10 segundos somente quando se tratava de um Movimento diferente; o mesmo Movimento era registrado novamente se continuasse no intervalo seguinte;
2. se o Movimento não fosse substituído imediatamente por um Movimento diferente, a cessação do mesmo era registrada como Repouso. Em relação aos olhos, Repouso significava fixação do olhar em um ponto do ambiente; olhar para pontos diferentes do ambiente era registrado como movimento dos olhos (um registro para cada ponto que fosse olhado);
3. as categorias especificadas como "aparente função acadêmica" foram avaliadas pelo exame da seqüência comportamental ao longo de três intervalos consecutivos; por exemplo, a criança "pega a borracha" e, no intervalo seguinte, usa-a para apagar a folha. Neste caso, o Movimento foi considerado "manipulação do objeto escolar com aparente função acadêmica".
Ao registrar cursivamente os comportamentos observados, o pesquisador consultava uma lista de comportamentos retirados de Souza (1985) com o objetivo de padronizar a descrição. A listagem estava em ordem alfabética e, na ocorrência de um comportamento não relacionado, o mesmo era introduzido.
Por terem se mostrado adequados para este modelo de pesquisa em SOUZA (1985), foram adotados o intervalo de 10 segundos e a análise dos 10 primeiros minutos (60 intervalos), para cada menino, embora cada sessão tivesse duração de 30 minutos (item 4.2.1.4.2).
Os dados assim transcritos foram codificados, digitados e processados de abril de 1992 a agosto de 1993, no Centro de Informática da Medicina (CIMED) da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, por meio do "software" EPI-INFO (1992) tornando-se, assim, os dados disponíveis para análise.

4.2.1.4.3 Análise das dimensões do movimento corporal: atividade da criança na sala de aula
O conceito de hiperatividade implica uma (ou mais) dimensão(ões) quantitativa e/ou uma dimensão qualitativa da atividade do menino, em sala de aula? Ou seja, hiperatividade seria melhor conceituado como um excesso de atividade, como o nome sugere, ou se definiria por um certo modo de ser ativo?
SOUZA (1985), optou por tentar inicialmente encontrar os modos possíveis de descrever a atividade da criança, tal como se observa na sala de aula, como um caminho para a elaboração e discussão do conceito de hiperatividade. Em que dimensões, quantitativas e/ou qualitativas seria possível descrever a atividade, entendida, basicamente, como movimentação corporal? Qual a contribuição de cada uma dessas dimensões para o conhecimento do comportamento do menino considerado irrequieto, por sua professora e diagnosticado como hiperativo, pelo neuropediatra?
Algumas das dimensões do movimento descritas e analisadas em SOUZA (1985) foram utilizadas nesta pesquisa, tais como:

4.2.1.4.3.1 Dimensões do movimento
Uma primeira dimensão, a mais imediata, é a quantidade simples de movimento; na forma como foi registrado, isso se traduz no número de movimentos registrados num dado período de tempo, ou seja, na freqüência de movimentação corporal, que pode ser considerada no total das partes do corpo cujos movimentos foram registrados, e/ou separadamente para cada parte do corpo.
Uma outra dimensão poderia ser a diversidade de movimento, ou seja, além de perguntar quantos movimentos o menino faz num dado período de tempo, pode-se perguntar quantos movimentos diferentes ele faz nesse período. Esta dimensão parece refinar um pouco a descrição da atividade: por exemplo, o menino que escreve continuadamente durante 1 minuto, terá computado uma freqüência de 6 movimentos de braços e mãos (uma entrada a cada 10 segundos); um outro menino pode ter a mesma freqüência de movimentos de braços e mãos (6 em 1 minuto), sendo no entanto 2 de escrever, 2 coçar a cabeça e 2 ajeitar a roupa- configurando um padrão de atividade bastante diferente da primeira.
Uma terceira dimensão é a que poderia ser chamada de ritmo: os movimentos de uma determinada parte do corpo se sucedem continuadamente (seja o mesmo, ou diversos), ou são intercalados por repousos, isto é, por estados de permanência numa posição, sem deslocamento.
Finalmente, pode-se falar na funcionalidade do movimento relativamente à tarefa escolar; esta especificação se justifica tendo em vista a natureza da situação de observação (sala de aula); por outro lado, é necessária para tornar claro qual a noção de funcionalidade, tal como foi utilizada em SOUZA (1985) e nesta pesquisa, não implica que outros movimentos (por exemplo, coçar a cabeça ou ajeitar a roupa) não sejam funcionais: apenas não têm funcionalidade aparente em relação à tarefa escolar em curso.

4.2.1.4.3.1.1 Índice Movimento
É calculado pela quantidade simples de movimento das partes do corpo ocorrido durante a sessão.

4.2.1.4.3.1.2 Índice Alternância
A diversidade do movimento foi analisada nesta pesquisa somente sob o aspecto da Alternância:
(a) pela proporção de mudanças de um movimento para outro diferente (mudanças M-OM), ou seja, na movimentação contínua da criança, que parte é constituída por seqüências do mesmo movimento, e que parte por seqüências de movimentos diferentes?
Para analisar este aspecto calculou-se o índice de Alternância, constituído pela proporção de mudanças M-OM no total de movimentos registrados num dado período de tempo: por exemplo, em uma sessão x, da criança y, foram registrados 50 movimentos de pernas, e ocorreram 20 mudanças M-OM; portanto, em 40% dos registros de movimento estava envolvida uma mudança do tipo de movimento, o que não significa que os outros 60% constituam seqüências do mesmo movimento: o Movimento intercalado de Repouso está incluído aí, como será visto no item que se segue.

4.2.1.4.3.1.3 Índice Ritmo
Para o cálculo do índice Ritmo extraiu-se do registro a freqüência de Repouso (Anexo 12): um Repouso foi tabulado quando ocorria cessação de um movimento de uma parte do corpo, de tal forma que essa parte permanecia pelo menos momentaneamente sem deslocamento ou mudança de posição; quando este estado se prolongava, um novo registro de Repouso era feito a cada 10 segundos, até que ocorresse um novo movimento.
Um movimento podia ser sucedido por outro movimento sem intercalação de Repouso, ou o mesmo movimento podia continuar durante vários intervalos, resultando portanto vários registros sucessivos de movimento.
No caso dos olhos, Repouso significa a fixação do olhar sobre uma direção ou objeto determinado.
Desta forma, a proporção entre os registros de Movimento e Repouso fornece uma primeira aproximação à questão do Ritmo da atividade: dada uma razão: .
* indica uma mudança constante de Movimento (para cada Movimento, um Repouso), ou um equilíbrio entre os dois estados;
* indica sucessão de Movimentos, intercalação de Repouso, ou predominância de estado de Movimento;
* indica Movimentos intercalados por estado de Repouso superiores a 10 segundos, ou predominância do estado de Repouso.
Da forma como os dados foram tabulados para esta análise, as razões M / R tanto poderiam indicar a freqüência de alternância entre Movimento e Repouso (por exemplo, uma razão = 1 significaria que entre cada dois Movimentos houve um Repouso), como o tempo total de Movimento e de Repouso - uma razão = 1 poderia significar, neste caso, que a criança esteve em Movimento contínuo e repetido (o mesmo movimento) durante x minutos, e depois em Repouso contínuo durante x minutos.
Embora este último caso no extremo pareceu improvável, julgou-se interessante analisar mais de perto de que forma Movimento e Repouso se sucederam ou se alternaram.
Para isto, elaborou-se o conceito de mudança de estado, que poderia ocorrer, nos dados obtidos, de três maneiras diferentes:
* mudança M-R, ou seja, um Movimento cessa e ocorre um Repouso;
* mudança R-M, ou seja, um Movimento interrompe um estado de Repouso;
* mudança M-OM, ou seja, um Movimento é sucedido por um outro Movimento diferente, sem intercalação de um estado de Repouso.
Este conceito será apresentado nesta pesquisa por meio de uma Figura, ou seja, pela representação gráfica dos movimentos rítmicos dos olhos, braços e mãos, e pernas e pés (Figura 14).

4.2.1.4.3.1.4 A funcionalidade dos movimentos relativamente à tarefa não-verbal.
Para avaliar quanto da atividade do menino está diretamente relacionada à Tarefa, foram selecionadas as categorias de movimento que se podia supor com mais segurança que seriam necessárias para o desempenho da Tarefa-Não Verbal.
Este critério é bastante aproximativo, e deixa de lado muitos movimentos que poderiam ter funcionalidade em relação à tarefa, e que podem ter sido executadas pelos meninos em função da execução da tarefa, mas em relação às quais a noção de necessidade pareceu menos plausível (por exemplo, "manipulação do objeto escolar de outra criança", "andar em direção à professora"), e exclui ainda movimentos não necessariamente incompatíveis com a tarefa (por exemplo, "limpar superfície enquanto escreve" ou "colocar objeto sobre ambiente").
As categorias selecionadas, e suas freqüências brutas são apresentadas nas Matrizes de Tabulação XIII, XIV e XV (Anexos 42, 42.1 e 43).

4.2.1.4.4 Procedimento para a construção da norma Carelli
Observou-se, na literatura científica, a ausência de trabalhos que fixassem critérios de normalidade para a movimentação corporal de meninos de 8 a 10 anos de idade, segundo abordagem e objetivos desta pesquisa. Diante desta constatação, o pesquisador buscou subsídios na estatística, criando-se para esta pesquisa a norma CARELLI, segundo objetivos e metodologias estabelecidas no presente estudo. Os procedimentos estatísticos aplicados aos dados empíricos dependerão do tipo de escala que se quer construir, na qual os dados serão ordenados (STEVENS, 1946).
A norma CARELLI é resultado de uma transformação normalizadora dos escores brutos , apresentando média aritmética 5,5, desvio padrão 1,483 e erro provável 1,0 .
Do ponto de vista estatístico há relativa concordância em se considerar normal os atributos compreendidos entre Q1 e Q3 das distribuições, ou seja, os 50% centrais.
Numa distribuição estatisticamente normal padronizada, o Q3 corresponde a um z = 0,6745, sendo esta fração do desvio padrão denominada erro provável (EP), (WECHSLER, 1944).
Na interpretação de um teste psicológico, quando o principal interesse é verificar como o indivíduo se comporta em relação à região de normalidade, o emprego do erro provável (EP) é a estatística mais indicada (WECHSLER, 1944; CARELLI, 1962).
Na norma CARELLI a distribuição foi dividida em intervalos de O,6745 desvio padrão cada um, a partir da média aritmética (STEVENS, 1946). Para cada desvio padrão calculou-se o posto percentil por meio da tábua da curva normal, verificando a que distância cada posto estaria da média, se a distribuição fosse normal (Tabela 5).

Tabela 5: Relação entre desvio padrão, posto percentil e NOTA K, da norma CARELLI
NOTA K 
Limites em
termos de DP
 
Limites em
centils
 
Porcentagem
dentro de cada
classe 
Quartis 
-------------- 
-----3,37----- 
----99,960---- 
-------------- 
-------------- 
10 
   
0,3 
 
-------------- 
----2,70---- 
----99,653---- 
-------------- 
-------------- 
   
1,8 
 
-------------- 
----2,02---- 
----97,851---- 
-------------- 
-------------- 
   
6,7 
 
-------------- 
----1,35---- 
----91,149---- 
-------------- 
-------------- 
   
16,2 
 
-------------- 
---0,6745--- 
----74,857---- 
-------------- 
------Q3 
   
24,8 
 
¯x=5,5 
-------------- 
----0,00---- 
----50,000---- 
-------------- 
------Q2 
   
24,8 
 
-------------- 
---0,6745--- 
----25,143---- 
-------------- 
------Q1 
   
16,2 
 
-------------- 
----1,35---- 
-----8,851----- 
-------------- 
-------------- 
   
6,7 
 
-------------- 
----2,02---- 
-----2,149----- 
-------------- 
-------------- 
   
1,8 
 
-------------- 
----2,70---- 
-----0,347----- 
-------------- 
-------------- 
   
0,3 
 
-------------- 
----3,37---- 
-----0,004----- 
-------------- 
-------------- 

Tendo-se a média aritmética com valor 5,5, nada melhor para a finalidade em vista, ou seja, o critério de valores numéricos inteiros (NOTA K 1 a 10), determinar o valor 1,0 ao erro provável (EP), pois assim cada intervalo com essa amplitude, a partir de 5,5, corresponderia a uma categoria.
Ao invés de se fazer corresponder a cada escore bruto uma determinada nota, na norma CARELLI, os escores brutos apresentados pelos meninos foram agrupados em dez categorias (NOTA K de 1 a 10), após transformação normalizadora dos mesmos (Tabela 5).

4.2.1.4.5 Procedimento para o cálculo da NOTA K
Para o cálculo da Nota K Movimento (Mov.), Nota K Alternância (M-OM) e Nota K Ritmo, primeiramente somou-se, entre si, os escores brutos de cada parte do corpo (olhos, pernas e pés, braços e mãos), para cada um dos 32 meninos não indicados como irrequietos, pelas professoras (Tabela 6).

Tabela 6: Totais de movimentos em cada parte do corpo para os índices: Movimento, Alternância, Ritmo e Repouso; para cada menino não indicado como irrequieto (normal)

Partes do Corpo 
MOV 
M-OM 
Repouso 
Ritmo 
Olhos 
57 
48 
40 
1.4 
Braços e mãos 
104 
34 
88 
1.2 
Pernas e pés 
24 
92 
0.3 
Totais 
185 
84 
220 
0.8 

A seguir, os escores brutos resultantes do somatório das partes do corpo passaram pelo processo de transformação normalizadora para cada um dos índices utilizados nesta pesquisa: Movimento, Alternância e Ritmo, para cada um dos meninos (Tabela 7).

Tabela 7: Representação dos elementos utilizados para o cálculo da NOTA K, para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais) por suas professoras
(1)
Soma das Notas
(2)
Fi 
(3)
Fac 
(4)
Fac ½ 
(5)
%i 
(6)
NOTA K 
Quartil 
0,5 
1,5625 
1,5 
4,6875 
10 
3,0 
9,3750 
11 
4,5 
14,0625 
12 
5,5 
17,1875 
13 
6,5 
20,3725 
14 
10 
8,5 
26,5625 
15 
13 
11,5 
35,9375 
16 
17 
15,0 
46,8750 
17 
18 
17,5 
54,6875 
18 
21 
19,5 
60,9375 
19 
25 
23,0 
71,8750 
20 
26 
25,0 
78,1250 
21 
27 
26,5 
82,8125 
22 
30 
28,5 
89,0625 
23 
31 
30,5 
95,3125 
24 
32 
31,5 
98,4375 
Número de
meninos 
32 

(1) somatório das Notas K Movimento, Alternância e Ritmo (Anexos 17)
(2) freqüência
(3) freqüência acumulada
(4) freqüência acumulada (3) menos a metade da freqüência (2)
(5) percentil (fac ½ x 100 ÷ 32)

Após transformação normalizadora dos escores brutos de cada um dos índices (Anexos 18, 19 e 20), por meio de estatísticas similares, cada menino recebeu uma NOTA K.
Em seguida, as Notas K obtidas nos diferentes índices foram somadas entre si, tornando possível encontrar a NOTA K final, por meio das mesmas
estatísticas empregadas nos cálculos da Nota K Movimento, Nota K Alternância e Nota K Ritmo (Tabela 7).
A Tabela 7 apresenta os elementos necessários para o cálculo da NOTA K, a qual possibilitou formar os grupos estudados nesta pesquisa.
Na coluna (1) são apresentados os escores normalizados de cada menino, ou seja, a soma das Notas K Movimento, Alternância e Ritmo.
Na coluna (2) está a freqüência (Fi) de ocorrência do escore normalizado.
Na coluna (3) encontram-se as freqüências acumuladas (Fac).
Na coluna (4) é representada a freqüência acumulada (Fac) menos a metade da freqüência (Fi) de ocorrência do escore normalizado. Nesta coluna calculou-se a freqüência acumulada devidamente corrigida para a descontinuidade do grupo.
O resultado obtido na coluna (4) multiplicado por 100 e dividido pelo N = 32 forneceu o percentil (%i) indicativo da posição relativa do menino, dentro do grupo (coluna 5).
Calculado o percentil (%i) procurou-se na norma CARELLI (Anexo 21) a NOTA K correspondente ao percentil encontrado (coluna 6).

4.3 Avaliação observacional da movimentação corporal dos meninos indicados como irrequietos, e encaminhados à diagnóstico diferencial de hiperatividade, para formação do grupo experimental

4.3.1 Método de investigação utilizado

4.3.1.1 Objetivo
Este estudo teve por objetivo analisar comparativamente a movimentação corporal dos meninos indicados como irrequietos, diagnosticados ou não como hiperativos, com a dos não indicados como irrequietos (normais).

4.3.1.2 Sujeitos

4.3.1.2.1 Caracterização por idade e escola
Fizeram parte deste estudo 16 meninos indicados como irrequietos, por suas professoras; 16 sorteados e os 32 não indicados como irrequietos (normais).
Os meninos não tomavam medicação que interferisse no comportamento, objeto de estudo. Todos estavam na faixa etária de 8 a 10 anos de idade e cursavam, pela primeira vez, a 2ª série do 1º grau de três Escolas Municipais da Capital de São Paulo, SP.
Esta faixa etária foi escolhida por ser apontada, em pesquisas, como a que mais evidencia o comportamento de interesse neste estudo (WENDER, 1974; LEFÈVRE et al., 1978).
Dos 16 meninos indicados como irrequietos, dois deles eram de origem africana.

4.3.1.2.2 Caracterização das escolas e famílias dos meninos estudados
Neste estudo utilizou-se o mesmo questionário sócio-econômico usado na pesquisa "Avaliação observacional da movimentação corporal de meninos não indicados como irrequietos, para construção de um parâmetro: a norma CARELLI", apresentada anteriormente a esta.
Os pais dos meninos indicados responderam ao questionário sócio-econômico de ALMEIDA e WICKERNAUSER (1991) mostrando que, das 16 famílias estudadas, 3 delas (18,75%) pertenciam a classe B; 4 (25%) a classe C; 5 delas (31,25%) encontravam-se na classe D, e as demais (25%) classificaram-se na classe E.

A dinâmica de funcionamento das escolas e o número de alunos nas mesmas foram descritas no estudo anterior a este.

4.3.1.3 Procedimentos de coleta de dados
Foram realizadas três coletas de dados dependentes, ou seja:
Fase 1 - Entrevista com as mães dos meninos indicados e dos sorteados.
Fase 2 - Encaminhamento, a profissionais da área de saúde, dos meninos indicados como irrequietos e dos sorteados.
Fase 3 - Gravação em vídeo da movimentação corporal dos meninos indicados e dos não indicados como irrequietos (normais), sendo que esta dependia das Fases 1 e 2. A Fase 2 dependia da Fase 1.
Antes de se dar início à Fase 1, esclareceu-se às crianças de que alguns meninos sorteados seriam examinados por um neuropediatra do Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina e por um pediatra no Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo. Informou-se que os exames eram indolores (exemplificando alguns deles) e, em seguida, solicitava-se permissão para continuidade da pesquisa.
Após as crianças concordarem em participar do estudo, pediu-se às professoras que mandassem bilhete às mães, ou responsáveis pelas crianças, solicitando o comparecimento das mesmas às escolas.

4.3.1.3.1 Fase 1 - Entrevista com as mães dos meninos indicados e dos sorteados
Depois que as professoras entraram em contato com as mães, marcou-se entrevistas com o pesquisador.

* Local das entrevistas
As entrevistas realizaram-se ou nas escolas freqüentadas pelos meninos indicados como irrequietos e pelos sorteados, ou nas casas dos mesmos quando as mães ou responsáveis pelos mesmos não atenderam aos bilhetes das professoras .

* Número de mães entrevistadas
Nesta fase foram entrevistadas 46 mães (23 dos indicados e 23 dos sorteados); destas, 12 não compareceram à consulta com o neuropediatra (6 dos indicados e 6 dos sorteados).
Permaneceram no estudo 34 mães, das quais 17 eram dos meninos indicados, e as demais dos sorteados .

* Procedimento das entrevistas
O pesquisador, em contato com as mães dos meninos indicados e dos sorteados, explicou-lhes que estudaria a "personalidade" de alguns meninos de três Escolas Municipais da Capital de São Paulo, e que estes eram sorteados por ele.
Durante a entrevista a mãe era informada que seu filho seria examinado por alguns profissionais da área da Saúde, como requisito para o desenvolvimento do estudo. As mães eram informadas de que as professoras, as diretoras e o Núcleo de Ação Educativa (NAE-1) consentiram na realização da pesquisa.

4.3.1.3.2 Fase 2 - Encaminhamento dos meninos indicados e dos sorteados a profissionais da área da Saúde
Após consentimento dos pais, os meninos eram encaminhados aos locais da área de Saúde onde seriam atendidos.
O pesquisador entrava em contato com as secretárias dos médicos fornecendo-lhes os nomes dos meninos que seriam examinados e, paralelamente, as mães dos meninos recebiam uma "guia" de consulta (Anexo 22).

* Local de atendimento
Os meninos indicados e os sorteados foram atendidos no Ambulatório de Neuropediatria do Hospital São Paulo, na Escola Paulista de Medicina de São Paulo e no Ambulatório de Pediatria, no Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo, São Paulo.

* Atendimento médico
Um neuropediatra deu um parecer sobre os meninos encaminhados a ele, diagnosticando-os ou não como hiperativos. O atendimento neuropediátrico foi feito de 03 de maio a 13 de setembro de 1991, uma vez por semana, perfazendo um total de 18 semanas de atendimento. Cada menino foi examinado uma única vez.
O pediatra examinou os meninos no período de 02 de maio de 1991 a 12 de março de 1992, uma vez por semana; cada menino foi examinado no mínimo duas vezes. Quando necessário o pediatra encaminhou o mesmo a outras clínicas. Este profissional examinou o estado geral dos meninos.

* Procedimento dos encaminhamentos à área da Saúde
Após entrevista com a professora, mãe e criança, e obtido consentimento para o desenvolvimento da pesquisa, encaminhou-se ao neuropediatra ou (1) um menino indicado como irrequieto, ou (2) um menino indicado e dois sorteados. No entanto, os atendimentos foram aleatórios em decorrências de algumas ausências.

4.3.1.3.3 Fase 3 - Gravação em videoteipe da movimentação corporal dos meninos indicados como irrequietos, por suas professoras
As gravações em videoteipe, da movimentação corporal dos meninos indicados foram realizadas entre 26 de agosto a 05 de setembro de 1991.

* Situação de gravação em videoteipe
Para este estudo as gravações realizaram-se em 8 salas de aula, durante as aulas, em três Escolas Municipais da periferia da Capital de São Paulo, SP.
As dimensões das salas, o número de alunos em cada uma delas, bem como as disposições dos móveis foram descritos no estudo anterior a este, itens 4.2.1.2.2 e 4.2.1.3.2.1.

* Equipamentos
Na fase da coleta de dados utilizou-se 16 fitas de vídeo, marca Polaroid, VHS-T.120, para a gravação dos comportamentos dos meninos indicados como irrequietos ; os demais equipamentos e recursos usados pelo pesquisador, pelas professoras e crianças assemelharam-se ao estudo anterior a este: "Avaliação observacional da movimentação corporal de meninos não indicados como irrequietos, para construção de um parâmetro: a norma CARELLI"; item 4.2.1.3.2.1.

4.3.1.3.3.1 Procedimento da gravação em videoteipe
As gravações em vídeo da movimentação corporal dos meninos indicados realizaram-se no período de 25 de agosto a 05 de setembro de 1991, num total de 16 sessões com duração de 30 minutos, cada uma.
Caso numa mesma sala de aula estivessem dois meninos indicados, a classe era dividida em duas turmas. Uma turma ficava na sala com um dos meninos indicados, enquanto que a segunda turma e o outro indicado aguardavam no pátio a vez de entrar em sala. Transcorridos 30 minutos a primeira turma saía da sala e a segunda entrava para a realização da gravação.
Havendo três ou quatro meninos indicados na mesma sala de aula, o pesquisador voltava à esta sala num outro dia, seguindo-se o procedimento acima descrito.
Os demais critérios usados, tais como, o horário de chegada do pesquisador e dos técnicos à escola, a organização da sala de aula, o consentimento dos profissionais da escola e das crianças, o local em que se sentava o menino indicado, a disposição das duas câmeras de videoteipe e as gravações foram idênticos aos da pesquisa anterior a esta, item 4.2.1.3.2.2.

4.3.1.3.3.1.1 Sessões de gravação
Foram realizadas 16 sessões de gravações em vídeo da movimentação corporal dos meninos indicados, no primeiro período (das 8h00 às 9h30 e das 10h00 às 10h30) e/ou no segundo período (das 11h00 às 11h30 e das 12h00 às 12h30). Cada sessão teve a duração de 30 minutos.
A distribuição das sessões por dia de observação e período em que ocorriam é apresentada na Tabela 8.

Tabela 8: Sessões de gravação em videoteipe, da movimentação corporal do menino indicado como irrequieto, por sua professora
Dia 
Mês 
Ano 
Início 
 
Término 
Primeiro
Período 
Segundo
Período 
Escola 
Professora (*) 
26 
ago 
1991 
11:00 
às 
11:30 
 
Zuleide 
26 
ago 
1991 
12:00 
às 
12:30 
 
Zuleide 
27 
ago 
1991 
08:00 
às 
08:30 
 
Laura 
27 
ago 
1991 
09:00 
às 
09:30 
 
Laura 
28 
ago 
1991 
11:00 
às 
11:30 
 
Helena 
29 
ago 
1991 
11:00 
às 
11:30 
 
Ilda 
30 
ago 
1991 
08:00 
às 
08:30 
 
Laura 
30 
ago 
1991 
11:00 
às 
11:30 
 
Marilda 
30 
ago 
1991 
12:00 
às 
12:30 
 
Marilda 
02 
set 
1991 
08:00 
às 
08:30 
 
Lurdes 
02 
set 
1991 
09:00 
às 
09:30 
 
Lurdes 
03 
set 
1991 
10:00 
às 
10:30 
 
Maria 
03 
set 
1991 
11:30 
às 
12:00 
 
Maria 
04 
set 
1991 
08:00 
às 
08:30 
 
Lúcia 
04 
set 
1991 
09:00 
às 
09:00 
 
Lúcia 
05 
set 
1991 
08:00 
às 
08:30 
 
Maria 

(*) Os nomes indicativos não são reais.
1º Período = das 7:00 às 11:00 horas
2º Período = das 11:00 às 15:00 horas

4.3.1.4 Procedimento de transcrição, tabulação e análise da movimentação corporal
As transcrições das gravações em videoteipe foram feitas em Protocolos e efetuaram-se de fevereiro a abril de 1992.
Os critérios utilizados para os demais procedimentos utilizados, referentes a este item, foram iguais aos descritos no item 4.2.1.4, do estudo anterior a este.