Vera Pessoa
PSICÓLOGA



TESE DE DOUTORADO
Indice



5
RESULTADOS


5.1 Meninos indicados como irrequietos: percepção das professoras O questionário dado às professoras constou de duas partes: na primeira solicitou-se que fornecessem informações pessoais (Tabelas 1, 2 e 3), e na segunda, que respondessem perguntas sobre os meninos indicados como irrequietos (Anexo 10).
A Tabela 9 apresenta os dados referentes às respostas das professoras que afirmaram ter menino irrequieto, em suas classes; e abaixo são apresentadas as perguntas.
1. "Total de crianças na sala de aula";
2. "Você tem algum menino que é considerado irrequieto? Cite o nome (nomes), e na coluna de repetência assinale a situação escolar do(s) mesmo(s)".

Tabela 9: Caracterização das salas de aulas estudadas, número de meninos indicados como irrequietos e de repetências entre os mesmos
Escola 
Prof. 
 
População
da Sala 
 
Nº meninos indicados
como irrequietos 
Nº de
irrequietos
repetentes 
   
Meninos 
Meninas 
Total 
   
Maria
Lucia
Paula
Laura 
14
15
17
14 
21
17
16
20 
35
32
33
34 
8
4
5
4
1
1
Neide
Sonia
Helena 
20
20
26 
17
12
13 
37
32
39 
5
1
1
-
Marli 
21 
27 
Total 
 
147 
122 
269 
34 
11 

A Tabela 9 observa-se que do Total de 147 meninos, 34 foram indicados como irrequietos (23,13%), mostrando maior número de meninos não percebidos como irrequietos (76,87%), por suas professoras.
Nota-se que dos 34 meninos indicados, 17 deles (50,00%) participaram do estudo porque preencheram os critérios estabelecidos por esta pesquisa. Os demais meninos não participaram, ou porque os pais não quiseram, ou porque eram repetentes da segunda série.
Nas perguntas em que as professoras apontaram comportamentos percebidos como indicativos dos 17 meninos percebidos como irrequietos, os dados foram agrupados segundo SOUZA (1985), em Categorias de Estado, de Movimentos específicos e Partes do corpo das crianças (Anexos 32, 32.1, 32.2 e 32.3). De forma a dar uma idéia qualitativa da movimentação corporal dos meninos considerados como irrequietos, nas salas de aula, essas categorias foram reagrupadas por um critério mais molar procurando levar em conta a orientação e/ou a função do movimento em relação ao meio. A seguir são apresentadas as perguntas e os dados referentes às mesmas.

3. "O que você percebe em cada um dos meninos que a faz dizer que ele é irrequieto?";
4. "Cada menino indicado como irrequieto é diferente dos não irrequietos, em que?".

Olhos

Os movimentos dos olhos foram agrupados em: Social e Outros. Os comportamentos apontados pelas professoras relativos a esta parte do corpo são apresentados na Tabela 10.

Tabela 10: Porcentagens de respostas às perguntas conforme categorias de movimento dos olhos percebidos pelas professoras, ao indicarem os meninos como irrequietos*
Perguntas 
Categoria de 
movimentos 
de olhos 
Social 
Outras 
3. "O que você percebe em cada um dos meninos
que a faz dizer que ele é irrequieto ?" 
62,50 
37,50 
4. "Cada menino indicado como irrequieto é
diferente dos não irrequietos,
em quê ?" 
34,00 
66,00 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais de movimentos de olhos (linha total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação I (Anexo 32.1).

A Tabela 10 e a Matriz de Tabulação I descrevem que os olhos foram percebidos orientando-se mais para o Social, especialmente para o "colega", quando o menino indicado como irrequieto foi avaliado individualmente (terceira pergunta). Quanto ao agrupamento Outros, o olhar "não identificado" foi destacado quando o menino indicado foi comparado com outro menino não percebido como irrequieto (quarta pergunta), por suas professoras.

Braços e Mãos

Braços e mãos tiveram os movimentos agrupados em Tarefa Escolar, Social e Manipulação Simples. Os dados fornecidos pelas professoras são apresentados na Tabela 11.

Tabela 11: Porcentagens de respostas às perguntas conforme categorias de movimentos de braços e mãos percebidos pelas professoras, ao indicarem os meninos como irrequietos*
Perguntas 
Categoria de 
movimentos 
(braços/mãos) 
Tarefa Escolar 
Social 
Manip.Simples 
3. "O que você percebe em cada
um dos meninos que a faz dizer
que ele é irrequieto ?" 
25,90 
33,30 
40,80 
4. "Cada menino indicado como
irrequieto é diferente dos
não irrequietos,
em quê ?" 
22,20 
77,80 
0,00 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais de movimentos de braços e mãos (linha total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação II (Anexo 32.2).

A Tabela 11 e a Matriz de Tabulação II mostram que as professoras ao considerarem individualmente os meninos indicados como irrequietos percebem mais a movimentação dos braços e mãos no reagrupamento Manipulação Simples (terceira pergunta); nesta categoria os meninos "apoiaram dedo na boca", "puxaram carteira", "friccionaram o lápis com as mãos", "manipularam borracha". Ao avaliarem o menino considerado irrequieto, comparativamente ao não irrequieto (quarta pergunta), as professoras mostraram que lhes eram mais conspícuos os movimentos de braços e mãos direcionados ao Social.
Nos meninos irrequietos destacam-se nos movimentos de braços o "cutucar, puxar e bater no colega".

Pernas e Pés

A Tabela 12 apresenta os movimentos de pernas e pés percebidos pelas professoras ao indicarem os meninos como irrequietos; os movimentos foram reagrupados em Movimento Sem Deslocamento, Movimento Com Deslocamento e Movimento Social.

Tabela 12: Porcentagens de respostas às perguntas conforme categorias de movimentos de pernas e pés percebidos pelas professoras, ao indicarem os meninos como irrequietos*
Perguntas 
Categoria de 
movimentos 
(pernas/pés) 
Sem deslocamento 
Com deslocamento 
Social 
3. "O que você percebe em cada
um dos meninos que a faz dizer
que ele é irrequieto ?" 
28,00 
61,00 
11,00 
4. "Cada menino indicado como
irrequieto é diferente dos
não irrequietos,
em quê ?" 
40,00 
60,00 
0,00 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais de movimentos de pernas e pés (linha total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação III (Anexo 32.3).

A Tabela 12 e a Matriz de Tabulação III descrevem que as pernas e pés se movimentaram mais no reagrupamento Movimento Com Deslocamento quando o menino considerado irrequieto foi percebido individualmente (terceira pergunta), e quando foi comparado a outro não indicado como irrequieto (quarta pergunta), por sua professora. Nesta categoria o considerado irrequieto foi percebido "andando", "chutando" e "levantando / sentando".

Boca

A Tabela 13 mostra os movimentos dos sons articulados emitidos pela boca, que foram reagrupados em Social Verbal e Movimento SimplesCom Som.

Tabela 13: Porcentagens de respostas às perguntas conforme categorias de movimento de boca percebidos pelas professoras, ao indicarem os meninos como irrequietos*
Perguntas 
Categoria de 
movimentos 
de boca 
Social Verbal 
Mov.Simples
com som 
3. "O que você percebe em cada
um dos meninos que a faz dizer
que ele é irrequieto ?" 
62,50 
37,50 
4. "Cada menino indicado como
irrequieto é diferente dos
não irrequietos,
em quê ?" 
100,00 
0,00 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais de movimentos de boca (linha total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação I (Anexo 32.1).

A Tabela 13 e a Matriz de Tabulação I descrevem que o movimento de sons articulados foi mais mencionado pelas professoras no reagrupamento Social Verbal; o menino considerado irrequieto foi percebido "falando com o colega" (terceira e quarta pergunta). No reagrupamento Movimento Simples Com Som, o menino irrequieto "resmungou", "cantou" e "chorou".
A parte do corpo Cabeça / Tronco foi mencionada com apenas uma ocorrência em Movimento Simples de Cabeça para os Lados.
Com o objetivo de se ter uma idéia geral da percepção da professora ao indicar um menino como irrequieto, as partes do corpo foram comparadas entre si. A Tabela 14 apresenta as porcentagens dos movimentos ocorridos em olhos; boca; braços e mãos; pernas e pés.

Tabela 14: Porcentagens de respostas às perguntas conforme categorias de movimentos de boca, braços e mãos, pernas e pés, percebidos pelas professoras, ao indicarem os meninos como irrequietos.
Perguntas 
 
Partes 
do corpo 
 
Olhos 
Boca 
Braços
e
mãos 
Pernas
e
pés 
3. "O que você percebe em cada
um dos meninos que a faz dizer
que ele é irrequieto ?" 
13,11 
13,11 
44,28 
29,50 
4. "Cada menino indicado como
irrequieto é diferente dos
não irrequietos,
em quê ?" 
8,57 
8,57 
25,71 
57,15 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais das partes do corpo boca, braços e mãos, e pernas e pés (linha total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação IV (Anexo 33).

A Tabela 14 e a Matriz de Tabulação IV mostram as porcentagens de cada parte do corpo, evidenciando que as professores ao observarem individualmente o menino indicado como irrequieto (terceira pergunta) mostraram perceber mais os movimentos de braços e mãos, comparativamente às demais partes do corpo. Com os braços e mãos os meninos irrequietos "apontaram lápis", "pegaram objeto escolar"; "apagaram caderno"; "puxaram carteira"; "friccionaram o lápis com as mãos"; "apoiaram mão na cabeça"; "apoiaram mão na boca"; "cutucaram o colega"; "puxaram o colega"; "bateram no colega".
Nota-se ainda que as professoras ao compararem o menino indicado como irrequieto com outro não irrequieto ressaltaram que os movimentos de pernas e pés são mais percebidos (quarta pergunta). Com as pernas e pés os meninos indicados "bateram os pés no chão"; "esfregaram os pés no chão"; "andaram"; "chutaram"; "levantaram / sentaram" e "chutaram o colega".
A Tabela 15 mostra as porcentagens das respostas referentes à pergunta: "É a quantidade e/ou a qualidade de verbalização e movimento corporal que a leva a perceber o menino como irrequieto?".

Tabela 15: Porcentagens da caracterização da quantidade e/ou qualidade da verbalização e da movimentação corporal dos meninos indicados como irrequietos, por suas professoras*
Classificação das Características 
Características 
Comportamentais 
Vervabilização 
Movimento corporal 
Quantidade 
50,00 
50,00 
Qualidade 
47,60 
52,40 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais de verbalização e movimentação corporal (coluna total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação V (Anexo 34)

Pela Tabela 15 e Matriz de Tabulação V, observam-se porcentagens semelhantes, entre si, nas características comportamentais verbalização e movimento corporal, na classificação quantitativa. No entanto, na qualidade, notam-se porcentagens maiores em movimento corporal, comparativamente à verbalização.
A Tabela 16 mostra as respostas que as professoras deram à pergunta: "A verbalização do menino irrequieto é pouca, regular ou bastante? e a movimentação corporal do mesmo é pouca, regular ou bastante?.

Tabela 16: Porcentagens da quantificação da verbalização e da movimentação corporal dos meninos indicados como irrequietos, por suas professoras*
Quantificação das Características
comportamentais 
Características 
Comportamentais 
Vervabilização 
Movimento corporal 
Pouco 
100,00 
0,00 
Regular 
50,00 
50,00 
Bastante 
47,80 
52,20 
* As bases para o cálculo destas porcentagens são as freqüências totais da quantificação das características comportamentais (coluna total), que são apresentadas na Matriz de Tabulação VI (Anexo 35).

A Tabela 16 e Matriz de Tabulação VI mostraram como as professoras consideraram sendo típico dos meninos indicados as quantificações Regular e Bastante, em verbalização e movimento corporal. Comparando estas características, observa-se maior porcentagem em movimento corporal na quantificação Bastante.

5.2 Avaliação observacional da movimentação corporal de meninos não indicados como irrequietos, para construção de um parâmetro: a norma CARELLI

5.2.1 Índice Movimento
A Tabela 17 apresenta o rol de freqüência da soma da movimentação corporal (olhos; braços e mãos; pernas e pés) ocorrida no índice Movimento, para cada um dos 32 meninos não indicados como irrequietos, pelas professoras.

Tabela 17: Rol dos escores brutos do Índice Movimento (MOV), para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais), por suas professoras
Menino 
Indice Movimento 
Freqüência 
25 
131 
47 
157 
23 
159 
40 
170 
50 
188 
31 
190 
20 
203 
22 
205 
18 
212 
24 
223 
48 
225 
49 
244 
44 
246 
26 
247 
46 
253 
42 
261 
19 
278 
43 
282 
30 
292 
27 
295 
39 
297 
38 
300 
33 
310 
17 
320 
34 
345 
29 
348 
28 
372 
45 
376 
35 
383 
41 
391 
37 
427 
36 
515 
Número de meninos: 
 
32 
A Tabela 17.1 apresenta a Nota K Movimento, do índice Movimento, para os 32 meninos normais, correspondente à transformação normalizadora da soma das partes do corpo: olhos; braços e mãos; pernas e pés (Anexo 23).
Observa-se que os escores brutos representados por pontos médios das classes variaram de 140 a 520, no ápice da distribuição.

Tabela 17.1: Distribuição de freqüência da Nota K Movimento (Mov.) para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais), por suas professoras
Ponto médio das classes do índice
Movimento 
Freqüência 
Nota K 
Quartil 
140 
160 
180 
200 
220 
240 
260 
280 
300 
320 
340 
360 
380 
400 
420 
440 
460 
480 
500 
520 
Número de Meninos 
32 
 
Nota-se que dos 32 meninos, oito deles (25,0%) apresentaram-se no primeiro quartil da norma, com 130 a 210 movimentos corporais; os quais os levaram à Nota K Movimento de 2 a 4. Observa-se ainda que dos 32 meninos da norma, dezesseis deles (50,0%), localizaram-se entre o primeiro e o terceiro quartil (Q1 e Q3), apresentando de 210 a 330 movimentos corporais durante os 10 minutos de observação os quais indicam Nota K Mov. 5 e 6.
Nota-se que acima do terceiro quartil (Q3), oito dos 32 meninos (25,0%) apresentaram de 330 a 530 movimentos corporais, durante os 10 minutos de observação; esses movimentos corporais representaram a Nota K Movimento, que variou de 7 a 9.
A Figura 1 mostra os dados da Tabela 17.1, evidenciando que o maior número de meninos normais (50,0%) agrupou-se no centro da curva, sobre a Nota K Mov. 5 e 6. A curva mostra uma diminuição no número de meninos nas extremidades, apresentando-se bilateralmente simétrica.

Figura 1: Histograma da distribuição de freqüência da Nota K Movimento (Mov.) para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais), por suas professoras
5.2.2 Índice Alternância
A Tabela 18 apresenta o rol de freqüência da movimentação corporal ocorrida no índice Alternância, para cada um dos meninos da norma (normais).

Tabela 18: Rol dos escores brutos do Índice Alternância (M-OM), para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais), por suas professoras
Menino 
Indice Elternância 
Freqüência 
25 
57 
40 
71 
23 
85 
50 
87 
48 
96 
35 
97 
22 
100 
31 
114 
20 
122 
47 
122 
24 
132 
42 
136 
49 
137 
18 
145 
46 
146 
26 
151 
19 
160 
39 
167 
17 
170 
28 
170 
44 
175 
27 
180 
30 
183 
33 
189 
43 
193 
29 
215 
34 
220 
38 
230 
45 
248 
41 
274 
36 
312 
37 
322 
Número de meninos: 
 
32 


A Tabela 18.1 apresenta a Nota K Alternância de cada um dos 32 meninos normais, correspondente à transformação normalizadora dos escores brutos apresentados no índice Alternância (Anexo 24).

Tabela 18.1: Distribuição de freqüência da Nota K Alternância para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais), por suas professoras
Ponto médio das classes do
índice Alternância>Movimento 
Freqüência 
Nota K 
Quartil 
62,5 
79,5 
96,5 
113,5 
130,5 
147,5 
164,5 
181,5 
198,5 
215,5 
232,5 
249,5 
266,5 
288,5 
300,5 
317,5 
Número de Meninos 
32 
 
Observa-se que os escores brutos representados por pontos médios das classes variaram de 62,5 a 317,5, no extremo da distribuição.
Nota-se que dos 32 meninos, oitos deles (25,0%) apresentaram-se no primeiro quartil da norma (Q1), com 54 a 122 movimentações corporais, o que representa a Nota K M-OM de 2 a 4.
Observa-se ainda que dos 32 meninos normais, 16 deles (50,0%) localizaram-se entre o primeiro e o terceiro quartil da distribuição (Q1 e Q3), apresentando de 122 a 190 movimentos corporais alternados, o que representa a Nota K M-OM de 5 a 6.
Nota-se que oito meninos (25,0%) dos 32 normais localizaram-se acima do terceiro quartil (Q3), tendo apresentado de 190 a 326 movimentos corporais alternados, os quais os levaram à Nota K M-OM de 7 a 9.
A Figura 2 apresenta os dados da Tabela 18.1, evidenciando que o maior número de meninos agrupou-se no centro da curva, sobre a Nota K Alternância 5 e 6 (50,0%). A curva mostra uma diminuição no número dos meninos nas extremidades, apresentando-se praticamente simétrica.

Figura 2: Histograma da distribuição de freqüência da Nota K Alternância (M-OM) para os 32 meninos não indicados como irrequietos (normais), por suas professoras