Vera Pessoa
PSICÓLOGA



TESE DE DOUTORADO
Indice



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CONCLUSÕES


Tendo em vista os resultados obtidos no presente trabalho, parece-nos lógico, primeiramente sugerir o nome de movimento corporal diferenciado ao menino cognominado como irrequieto por sua professora e diagnosticado como hiperativo. Esta terminologia que assumimos fundamenta-se no que observamos de diferente entre os grupos estudados ao longo desta pesquisa.

No trabalho que desenvolvemos com a professora, ficou evidente que esta percebeu, de uma forma singular, o menino com movimento diferenciado, durante a entrevista inicial, com o pesquisador, sem a presença dos alunos. A professora, provavelmente, demonstrou "memória perceptiva gestáltica" quando lhe foi solicitada que "apenas" indicasse o menino irrequieto de sua sala de aula. Posteriormente, acrescida a esta suposição, observamos que a professora, talvez, de maneira descritiva, percebeu melhor o menino irrequieto quando o comparou, na sala de aula, a outro diferente.

Estas conclusões levaram-nos a considerar que a psicologia da professora poderia ser menos comprometida com preconceitos, quando esta é solicitada a observar o menino como um todo, juntamente com as demais crianças, descentralizando-o de uma atenção exclusiva.

Considerando que tais reflexões são ainda iniciais, enfatizamos a necessidade de trabalhos que procurem verificar estas assertivas. No entanto, é importante ponderar que esta linha de reflexão poderia interferir no comportamento da professora na relação professor-aluno, criança-criança e na funcionalidade do movimento relativamente à tarefa, numa sala de aula.

Quando a "memória perceptiva gestáltica" da professora, que indicou os 17 meninos irrequietos, foi contrastada à norma CARELLI, observamos que estes dois indicadores apresentaram-se alinhados.

O parâmetro norma CARELLI, por meio da análise multivariada (MANOVA), evidenciou-se pela eficiência ao definir os grupos com movimento corporal diferenciado e o controle. Este resultado, sendo ainda primário, sugere investigações com outros grupos do mesmo sexo e idade, com semelhantes características de movimento, devido as suas implicações para o menino em estudo nas áreas de educação e saúde.

Na norma CARELLI, os índices Movimento, Alternância e Ritmo revelaram-se complementares entre si na mensuração da movimentação corporal e mostraram ser instrumentos valiosos para a identificação de grupos com diferentes movimentos corporais, indicando que a qualidade do movimento é tão importante quanto a quantidade, para a discriminação dos meninos em sala de aula. É enfática a necessidade de que outras pesquisas continuem a investigar estas dimensões que poderão trazer maiores contribuições à identificação do menino objeto deste trabalho.

Os índices foram instrumentos sensíveis na percepção da influência da música rock Trilogy na movimentação corporal dos grupos estudados, nas situações experimentais: Antes, Durante e Depois da Música. Ressaltamos que, por meio da análise multivariada (MANOVA), foi possível verificar que a música utilizada produziu diminuição qualitativa e quantitativa no grupo com movimento corporal diferenciado, especialmente na situação Durante a Música, estendendo-se à Depois da Música.

O método experimental Antes (10'), Durante (10') e Depois da Música (10') e o registro da movimentação corporal mostraram-se adequados à esta pesquisa. No entanto, por ser este método minucioso, requerendo do pesquisador muito tempo de transcrição dos comportamentos observados, o mesmo necessita de estudos que busquem uma maior funcionalidade tanto na forma de registro como na sua duração, conservando, porém, suas características originais.

Na análise descritiva do movimento, os braços e mãos do menino com movimento corporal diferenciado se sobressaíram, acompanhando os movimentos dos olhos ao longo do estudo da norma CARELLI e da situação experimental Antes da Música. Observamos também que o menino deste grupo direcionou mais seus movimentos de olhos e braços e mãos, relativamente à Tarefa Não-Verbal, Durante a Música.

Desta forma, sob a influência da música rock Trilogy, de Malmsteen, constatamos a diminuição de movimentos do menino que escolheu focalizar mais a sua atenção à tarefa proposta. Tendo em vista este resultado, ressaltamos o que VIGOTSKY (1991) afirma sobre o processo de escolha na criança:

"... a série de movimentos tentativos constitui o próprio processo de seleção. A criança não escolhe o estímulo (...) como ponto de partida para o movimento conseqüente, mas seleciona o movimento, comparando o resultado com a instrução dada. Dessa forma, a criança resolve sua escolha não através de um processo direto de percepção visual, mas através do movimento; hesitando entre dois estímulos" (o menino olha o caderno e seus braços e mãos escrevem; seus olhos repousam sobre o caderno e seus braços e mãos manipulam borracha; seus olhos dirigem-se à borracha e seus braços e mãos a pegam; o menino olha o caderno e seus braços e mãos escrevem) , "parando a meio do caminho e voltando" (seus olhos repousam sobre o caderno e seus braços e mãos repousam; seus olhos repousam sobre o caderno e seus braços e mãos escrevem) . "Quando a criança transfere sua atenção para um outro lugar, criando dessa forma um novo foco na estrutura dinâmica de percepção, sua mão, obedientemente, move-se em direção a esse novo centro, junto com seus olhos. Em resumo, o movimento não se separa da percepção: os processos coincidem quase que exatamente" (p.38).

Estas três sugestões — a do comportamento de escolha do menino entre dois ou mais estímulos por meio dos movimentos alternados e rítmicos; a dos movimentos dos braços e mãos acompanharem um novo foco de fixação dos olhos; e a da utilização da música rock Trilogy como facilitadora da funcionalidade do movimento relativamente à Tarefa Não-Verbal — são passíveis de uma verificação mais controlada.

Parece-nos, agora, que esse seria o passo seguinte no caminho de volta às nossas preocupações originais sobre a terapêutica, coadjuvante ou não, no atendimento ao menino com movimento corporal diferenciado, numa sala de aula, na qual necessita apresentar, para si mesmo, movimentos direcionados à tarefa proposta pela professora.